O governante que se orienta pelo Dao (Caminho)
Evita a utilização de forças agressivas abaixo do Céu.
Pois primar pela agressão leva ao revide.
No local onde um exército se estabelece, crescem sarças e espinhos.
Após grandes combates, seguirão anos penosos.
O bem é alcançar o propósito e parar.
Não se atrever a perseguir mais conquistas.
Alcançar o propósito e não se glorificar.
Alcançar o propósito e não se gabar.
Alcançar o propósito e não se orgulhar.
Alcançar o propósito e não se envaidecer.
Alcançar o propósito e descartar a força das armas.
As coisas em excesso não seguem o Dao e envelhecem.
Sem seguir o Dao logo perecem.
A ARTE DO USO DA FORÇA
Usar a força agressiva pode levar à violência sem fim, já que como diz o primeiro parágrafo deste capitulo: primar pela força leva ao revide.
O revide pode ser tão ou mais violento que a agressão inicial e provoca uma inversão da situação: aquele que agrediu passa a se defender e aquele que se defendeu passa a agredir, desencadeando um ciclo de violência.
Para que não seja necessário usar uma força agressiva é preciso evitar que se chegue à situação extrema que fez com que não houvesse outro jeito, senão fazer frente ao conflito. Atuando desde a sua raiz é possível prevenir que o desenvolvimento de uma situação chegue neste ponto.
É preciso ficar atento à origem da situação e atuar nos desequilíbrios iniciais, quando as coisas ainda são pequenas e simples e não cresceram e se tornaram complexas. Dar importância ao pequeno e simples significa não ter dificuldades no final.
“Não se esqueça da possibilidade do perigo em tempo de paz, não se esqueça da possibilidade de ruína em tempo de prosperidade, não se esqueça da possibilidade de caos em tempos de ordem”, diz o pensamento chinês. Ler os sinais de perversidade que ainda não se materializaram e agir preventivamente é, na cultura chinesa, uma sabedoria, é seguir o Dao.
A prevenção tem grande destaque na medicina tradicional chinesa: melhor do que curar uma gripe é evita-la, melhor do que extirpar um tumor é não produzi-lo. Assim, um médico de alto nível é aquele que não deixa a pessoa ficar doente, o médico de nível médio começa a tratar quando a doença já se manifestou e o médico comum trata o corpo quando a doença já se instalou.
O pensamento aplicado à saúde também serve para o caso da paz mundial. Nos conflitos entre as nações, quando feita com sabedoria, a diplomacia previne as guerras, porém quando falha, faz-se uso da força militar.
Assim, seja em um tratamento médico como numa guerra, os danos provocados pela força agressiva recaem sobre os que vencem, mas também sobre os vencidos. A reconstrução, dependendo da destruição, é penosa.
Há situações que são dadas. Não foram provocadas ou causadas pelos envolvidos. Sem possibilidades de atuar na prevenção, o que se deve fazer? Não se deve agir com debilidade e sim com uma força eficaz que é governada pela serenidade, compaixão, moderação e humildade. Força que deixa de ser uma agressão porque sabe parar quando atingido o propósito.
A arte não está em usar a força. A arte está em como usar a força.
Alcançar o propósito e não se glorificar.
Alcançar o propósito e não se gabar.
Alcançar o propósito e não se orgulhar.
Alcançar o propósito e não se envaidecer.
Alcançar o propósito e descartar a força das armas.
Assim como os médicos da MTC, importantes estrategistas militares como Sun Zi, autor do clássico a Arte da Guerra, consideravam que a vida é a coisa mais importante, o bem maior, como mostra estes aforismos:
No mundo nada é mais precioso que o ser humano…Se lança ao combate só quando é inevitável. (Sun Zi, estrategista militar no período dos Reinos Combatentes).
A vida do homem é tão preciosa, vale mais do que mil moedas de ouro. (Sun Simiao, médico da dinastia Tang)
Onde há amor não há desejo de poder, o poder predomina onde há falta de amor (Carl Jung).
Aquele que considera a vida um bem maior é bom e age com benevolência, seja ele um soldado ou um médico.